25, abril 2024
Dharamshala: Hoje estamos aqui reunidos para marcar a ocasião especial do trigésimo quinto aniversário de Sua Eminência o décimo primeiro Panchen Rinpoche, Tenzin Gendun Yeshi Thinley Phuntsok. Nesta ocasião especial, rezamos fervorosamente para que Sua Eminência possa em breve quebrar os grilhões do cativeiro ilegal imposto a ele pelo governo chinês retornando à liberdade e assumindo o seu legítimo trono no Mosteiro Tashi Lhunpo.
É um dia para nos envolvermos na festividade habitual para celebrar o aniversário do Panchen Rinpoche. Infelizmente, o paradeiro de Panchen Rinpoche e de seus pais Kunchok Phuntsok e Dechen Choedon e Jadrel Jampa Trinley Rinpoche, que foi nomeado presidente do comitê de busca do governo chinês,[1] permanece desconhecido depois de terem sido sequestrados à força pelas autoridades chinesas na noite do dia 17 de maio de 1995, três dias depois de Sua Santidade o Dalai Lama o ter reconhecido como a reencarnação do Panchen Rinpoche.
Sua Santidade o Dalai Lama e o Panchen Rinpoche, considerados o sol e a lua pelos tibetanos, são os dois principais detentores da tradição Gelug do Budismo Tibetano na história. Eles não são apenas os mestres de mais alto nível da tradição Gelug, mas também têm uma longa história de relacionamento espiritual em termos de reconhecimento das reencarnações sucessivas uns dos outros, concedendo ordenação e transmitindo ensinamentos uns aos outros.
Nascidos em Amdo na mesma época que Sua Santidade o décimo quarto Dalai Lama e depois de serem reconhecidos como a reencarnação do Panchen Rinpoche por Sua Santidade, eles se conheceram em 1952. Juntos visitaram a China e a Índia em 1954 e 1956, respectivamente. A turbulência de 1959 resultou na sua separação, após a qual o governo chinês nomeou Panchen Rinpoche como vice-presidente do chamado Comitê Preparatório para a Região Autônoma do Tibete. O Panchen Rinpoche testemunhou as atrozes reformas agrárias e democráticas, a chamada “pacificação” da rebelião, a destruição de mosteiros, o despojamento forçado de monges e freiras, o massacre, prisão e tortura de centenas de milhares de tibetanos, e a prematura morte de muitos tibetanos, o que trouxe o inferno ao Tibete. Apesar da insistência do seu tutor Ngulchu Rinpoche, Ngabo, Geshe Sherab Gyatso e outros, Panchen Rinpoche apresentou a petição de 70.000 caracteres[2] ao primeiro-ministro chinês. Como resultado, foi submetido a um sofrimento imensurável numa prisão chinesa durante mais de 14 anos. Após a sua libertação da prisão, com determinação inabalável, ele defendeu incansavelmente a educação dos tibetanos, a promoção e preservação do budismo tibetano e os direitos do povo tibetano.
No décimo aniversário da morte do 10º Panchen Rinpoche em 1999, Sua Santidade o Dalai Lama disse: “Panchen Rinpoche foi um herói que sacrificou a sua vida pela causa da cultura e da liberdade do povo tibetano, apesar da ameaça à sua vida, e especialmente pelos ensinamentos do Lama Tsongkhapa. Isto é indiscutivelmente bem conhecido. Podemos ver isso claramente em sua petição de 70.000 caracteres. Desta forma, ele é uma pessoa extraordinária cujas aspirações amadureceram com o tempo.”
“Quando Panchen Rinpoche estava vivo, eu poderia pensar que ele faria tudo o que pudesse para ajudar o Tibete. Após a morte de Panchen Rinpoche, sempre que havia uma crise no Tibete, eu pensava que era terrível pensar que Panchen Rinpoche não estava lá. Se Panchen Rinpoche estivesse aqui, eu pensaria que ele faria todo o possível.”
Em 14 de maio de 1995, Sua Santidade o Dalai Lama, seguindo os rituais e testes tradicionais do Budismo Tibetano, anunciou a reencarnação inconfundível do décimo Panchen Rinpoche. No entanto, três dias depois, o governo chinês raptou-o juntamente com os seus pais e desde então passaram-se 29 anos e o seu paradeiro permanece desconhecido.
Desde 1995, o caso do desaparecimento forçado do 10º Panchen Rinpoche tem sido consistentemente discutido no Grupo de Trabalho da ONU sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários, no Grupo Especial de Investigação sobre Desaparecimentos Forçados da Comissão de Direitos Humanos da ONU, no Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança, Relatoria Especial sobre Liberdade de Religião ou Crença, Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e outros comitês. Da mesma forma, membros de parlamentos e governos dos Estados Unidos, Lituânia, Alemanha, República Checa, Canadá, Eslováquia, Índia, Itália, Bélgica, Japão, Suíça, Taiwan, União Europeia, Reino Unido, África do Sul, Austrália, Chile e Espanha, entre outros, manifestou a sua séria preocupação com a situação do Panchen Lama e apelaram por sua libertação imediata.
O governo chinês não respondeu claramente às questões sobre o paradeiro de Panchen Rinpoche levantadas pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional. Em 2015, o porta-voz do governo chinês afirmou que Panchen Rinpoche está recebendo educação como outras crianças e que não quer ser incomodado por ninguém. O relatório de cinco especialistas em direitos humanos da ONU sobre sua reunião com o governo chinês em 2 de Junho de 2020, reportou que o governo chinês afirmou que Panchen Rinpoche recebeu educação obrigatória gratuita quando era criança, passou no exame de admissão à faculdade e agora tem um emprego. Da mesma forma, ao ser questionado sobre Panchen Rinpoche durante a 45ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada em 22 de Setembro de 2020, o representante do governo chinês disse que Gendun Choekyi Nyima é um cidadão chinês comum e não a reencarnação de Panchen Rinpoche.
A Administração Central Tibetana tem apelado persistentemente à libertação imediata de Panchen Rinpoche através de resoluções aprovadas no Parlamento Tibetano no Exílio e em declarações do Kashag. Os órgãos oficiais do [governo noexílio do] Tibete realizaram diversas campanhas para angariar o apoio da comunidade internacional. Da mesma forma, organizações não-governamentais como a Campanha Internacional para o Tibete e os Grupos de Apoio ao Tibete em todo o mundo iniciaram numerosas campanhas de defesa. O Mosteiro Tashi Lhunpo tem realizado incessantemente campanhas para a libertação de Panchen Rinpoche. Por ocasião do 33º aniversário de Panchen Rinpoche em 2022, o Venerável Zeekgyab Rinpoche, Abade do Mosteiro Tashi Lhunpo, juntamente com Sikyong, reuniram-se com Nancy Pelosi, a então Presidente do Congresso dos EUA e Uzra Zeya, a Coordenadora Especial dos EUA para as Questões Tibetanas. Eles também participaram de uma audiência pública no Parlamento Canadense no dia 5 de maio sobre esse assunto. Em coordenação com os escritórios do Tibete, o Ven. Zeekgyab Rinpoche realizou campanhas de defesa de direitos na Bélgica e na Inglaterra, entre outros para o Panchen Rinponche. Infelizmente, o governo chinês não prestou atenção à preocupação e ao apelo genuínos da comunidade internacional e dos tibetanos no exílio.
A nossa preocupação mais premente é se o Panchen Rinpoche ainda está vivo ou não. Se se presume que ele está vivo, ele foi criado com os pais desde os seis anos de idade até agora, durante os últimos 29 anos? Ou ele foi mantido em um ambiente remoto para se tornar alguém que não consegue falar nem mesmo em tibetano? Quanto as pessoas ao seu redor, poderiam tê-lo abusado e torturado, assim como os guardas vermelhos comunistas que chineses submeteram o 10º Panchen Rinpoche a reeducação? Ele foi confinado dentro dos altos muros de uma prisão chinesa, sem comunicação com o mundo exterior? Ou ele foi mantido em confinamento solitário, sem luz solar, assim como fizeram com o 10º Panchen Rinpoche? Ele estava sendo torturado pelo governo chinês com frio e fome em um local assolado por nevascas? Ou ele está sendo forçado a trabalhar como escravo em um campo de trabalhos forçados? Será que o Panchen Lama, que atingiu a idade adulta, realmente vive uma vida saudável?
Estas são as questões vitais que permaneceram sem resposta?
O governo chinês violou descaradamente os direitos humanos e as liberdades fundamentais do Panchen Rinpoche, reconhecido por Sua Santidade o Dalai Lama. Além disso, alega que os apelos feitos pelos tibetanos no exílio e pela comunidade internacional para restaurar os seus direitos humanos e liberdades fundamentais o estão perturbando. Tais táticas para enganar a comunidade internacional são insustentáveis. A filosofia subjacente ao sistema de reencarnação é que se deve aceitar o conceito de renascimento. O propósito do aparecimento de uma reencarnação é continuar o trabalho inacabado de seu antecessor. Portanto, respeitando o direito internacional, a dignidade humana, as aspirações de milhões de seguidores do Budismo Tibetano e as suas leis nacionais, as autoridades chinesas deveriam permitir imediatamente o acesso de uma comissão independente de investigação ao Panchen Rinpoche, a quem deveriam ser concedidos os seus direitos humanos básicos.
Dar rédea solta aos regimes que violam descaradamente o direito internacional e os direitos humanos equivale a negligenciar os alicerces da paz e da justiça no mundo. Portanto, apelamos a todos os governos democráticos livres para que tomem medidas eficazes para garantir a libertação imediata de Panchen Rinpoche. Apelamos às organizações de direitos humanos e aos apoiantes da causa tibetana para que tomem todas as medidas possíveis para apelar aos seus governos.
Aproveitando esta oportunidade, o Kashag gostaria de exortar Gyaltsen Norbu, que foi nomeado pelo governo chinês, sendo um tibetano e alguém que teve a oportunidade de estudar o budismo tibetano, a não se tornar uma ferramenta política dos motivos sinistros do governo chinês. Em vez disso, deve reconhecer o perigo sem precedentes que ameaça a sobrevivência do povo tibetano e do budismo tibetano, e assumir destemidamente a sua responsabilidade e não cometer qualquer ato que possa prejudicar os tibetanos e a causa espiritual e política do Tibete.
Finalmente, oramos pela longa vida de Sua Santidade o Dalai Lama e pela libertação imediata de Sua Eminência o décimo primeiro Panchen Rinpoche Tenzin Gendun. Que os dois se reencontrem em breve!
Penpa Tsering
Sikyong
25 de abril de 2024
Nota: Em caso de qualquer discrepância entre esta tradução realizado a partir de versão em inglês e o seu original tibetano, este último deve ser considerado oficial e final para todos os efeitos.
[1] Comitê que procurou a reencarnação presente desse que é o segundo maior cargo eclesiástico no budismo tibetano.
[2] A escrita tibetana é medida em termos de caracteres alfabéticos necessários à composição dos textos; um texto de 70 mil caracteres é u texto bastante longo.
*Todas as notas de rodapé são notas da tradutora explicando termos específicos da cultura tibetana e esclarecendo pontos no documento para evitando ambiguidade e/ou interpretação equivocada.
[**] Conselho consultivo do governo tibetano no exílio; um comitê especial que atua junto ao primeiro ministro (sikyong) para o aconselhar; equivalente ao corpo de ministros no regime presidencial.