Hoje, estamos comemorando uma ocasião marcante na história da nossa nação. Marcamos o 66º aniversário do 10 de março de 1959, quando tibetanos das três províncias, com um único propósito, uniram-se em uma ação espontânea e não violenta para se insurgir contra a mentalidade violenta e as perpetuações do governo comunista chinês. É um dia profundamente enraizado na consciência do nosso povo, tornando-se extremamente difícil de apagar da nossa memória coletiva. Hoje também é o Dia dos Mártires Tibetanos, que homenagea a valentia patriótica dos homens e mulheres tibetanos que sacrificaram tudo, incluindo suas próprias vidas, em prol das causas religiosas, políticas e nacionais do Tibete.
A tragédia da nação tibetana começou com o estabelecimento da República Popular da China em 1949, que, em pouco tempo, empreendeu uma invasão armada no Tibete. Em seguida, a China comunista lançou diversos tipos de campanhas contra o povo tibetano, incluindo as violentas. Tudo culminou na coerção da China sobre o governo tibetano para assinar, sob pressão, o chamado Acordo de 17 Pontos em 1951. Ainda assim, após sua assinatura, o governo tibetano buscou coexistir com o governo comunista chinês por meio do diálogo, mesmo sofrendo com essa relação. No entanto, o governo da China simplesmente ignorou e pisoteou nas disposições desse acordo. As manifestações de protesto do público tibetano contra essas ações foram crescendo dia após dia.
Por fim, a situação se tornou tão grave, com a ameaça à segurança pessoal de Sua Santidade o Dalai Lama, que culminou no levante de 10 de março de 1959, que hoje relembramos. Sete dias após essa data memorável, Sua Santidade o Dalai Lama foi forçado a fugir e buscar refúgio na Índia, acompanhado pelo governo e por muitos cidadãos tibetanos. Enquanto isso, o governo chinês continuou a exercer sua repressão sobre o Tibete com campanhas sucessivas, como a Reforma Democrática, a Revolução Cultural e outras. Essas campanhas foram utilizadas para realizar atos em larga escala com o objetivo de erradicar a religião, a cultura e a identidade nacional do povo tibetano.
A política rígida e repressiva que o governo da China tem seguido no Tibete ao longo de sua ocupação levou a sucessivos protestos, tanto por monges e monjas dos Três Grandes Monastérios quanto pelo público tibetano. Entre os principais levantes, destacam-se os que ocorreram em 1987, 1988 e 1989. Posteriormente, houve os protestos simultâneos de 2008 (o ano do Grande Rato-Terra), quando tibetanos das três províncias históricas do Tibete se levantaram contra a repressão chinesa. Além disso, um total de 157 tibetanos, desesperados sob o governo repressivo da China, recorreram ao autoimolamento como forma extrema de protesto. Esse é apenas o número confirmado de casos conhecidos. Embora essa seja a realidade no Tibete até hoje, o governo da China continua a propagar mentiras, alegando falsamente que o povo tibetano desfruta de liberdade e felicidade. O objetivo dessa propaganda é enganar tanto o povo chinês quanto governos e populações em todo o mundo. Essa campanha de desinformação, completamente desconectada da realidade, continua a ser disseminada pelo governo da China.
Em 10 de dezembro de 2024, a Delegação da União Europeia para a República Popular da China, que representa a União Europeia no país, emitiu uma declaração sobre a situação dos direitos humanos na China. O comunicado reafirmou a constatação da delegação de que a situação dos direitos humanos no Tibete, especialmente em relação à liberdade de expressão, de reunião e de movimento, continua sendo severamente restringida. Além disso, destacou que a China tem restringido a emissão de passaportes para tibetanos e os submetido à repressão violenta no exercício de sua liberdade de crença e prática religiosa. A declaração também denunciou que as autoridades chinesas estão obrigando a reorientação das atividades religiosas do budismo tibetano para se alinharem à ideologia do governo chinês.
O relatório da delegação europeia também destacou que o governo chinês tem seguido uma estratégia planejada de assimilação coercitiva das crianças tibetanas, separando-as de seus pais e impondo a matrícula obrigatória em internatos. Essas ações representam uma ameaça grave à sobrevivência da identidade e da língua tibetana. Como evidência dessa política, o relatório citou o fechamento forçado da Academia Ragya Gangjong Sherig Norbue Lobling e a imposição do ensino compulsório do idioma chinês às custas do ensino da língua materna dos tibetanos. Além disso, nos últimos meses, a China tem implementado planos para eliminar os exames de admissão em língua tibetana para ingresso nas universidades, o que lembra uma segunda Revolução Cultural no Tibete.
Em 14 de janeiro de 2025, um grupo de nove especialistas e relatores de direitos humanos do Conselho de Direitos Humanos da ONU tornou pública uma comunicação enviada dois meses antes ao governo chinês, solicitando informações sobre o desaparecimento de nove tibetanos após suas detenções. Esse é apenas um exemplo da repressão contínua. O governo chinês não apenas prende e detém tibetanos com falsas acusações criminais, mas, em muitos casos, os detentos são submetidos a espancamentos e torturas severas antes de sua libertação, tornando-se incapazes de recuperar suas vidas. Além disso, há registros de mortes resultantes de maus-tratos infligidos a prisioneiros políticos tibetanos antes de sua soltura.
Já se tornou evidente que o governo da China submete tibetanos que vivem em outros países a uma repressão transnacional coercitiva. Nesse sentido, vale ressaltar que, em dezembro de 2024, o governo chinês criminalizou politicamente os líderes e outros membros do Comitê Tibetano do Canadá e do Projeto de Defesa dos Direitos Uigures, totalizando 20 pessoas. O governo chinês foi duramente criticado por essa ação tanto pelo governo do Canadá quanto por outros membros da comunidade internacional. Da mesma forma, em 12 de fevereiro deste ano, o governo da Suíça divulgou um relatório contendo 10 capítulos que estabeleceram claramente o fato de que o governo da China submete os tibetanos e uigures que vivem naquele país à repressão transnacional.
Em novembro de 2023, o governo da China publicou um relatório branco intitulado “Políticas do Partido Comunista Chinês sobre a Governança de Xizang na Nova Era: Abordagem e Conquistas”, deixando claro que continua a interferir no reconhecimento da reencarnação de Sua Santidade o Dalai Lama. No entanto, o fato é que os sistemas e procedimentos pelos quais cada uma das reencarnações dos lamas no budismo tibetano ocorre pertencem exclusivamente à tradição religiosa tibetana. Resoluções, declarações e notificações foram emitidas em diversas partes do mundo exigindo que a China se abstenha de interferir nessa prática religiosa única do budismo tibetano.
Para nós, o mais importante de ter em mente neste momento são as palavras encorajadoras de Sua Santidade o 14º Dalai Lama, que afirmou, em várias ocasiões, que todos os sinais e premonições indicam que ele viverá por mais de 110 anos. Todos nós devemos orar sinceramente para que isso se torne realidade. Além disso, é inconcebível que qualquer tibetano ou qualquer outra pessoa da comunidade internacional aceite como genuína uma futura reencarnação do Dalai Lama que seja imposta de maneira contrária às intenções expressas por Sua Santidade em uma declaração feita por ele em 2011 especificamente sobre essa questão.
A história nacional do Tibete pode ser traçada através da linhagem dos antigos reis Tsenpo, seguida sucessivamente pelos governantes Sakya, Phagdru, Rinpung e Gaden Phodrang. A Administração Central Tibetana no exílio, que hoje representa o povo das três províncias tradicionais do Tibete, é uma continuação ininterrupta dessa autoridade, com jurisdição legal inquestionável sobre elas. Isso se baseia no fato de que o Tibete foi historicamente um país independente, porém militarmente invadido e submetido ao domínio ocupacional da China a partir de meados do século XX. A realidade é que o governo comunista da China continua a implementar uma série de políticas, tanto repressivas quanto disfarçadamente brandas, com o objetivo de transformar o Tibete em um território chinês. Essa situação é de extrema gravidade e preocupa profundamente o povo tibetano. Se o governo chinês continuar adotando uma postura rígida, sem qualquer abertura ou compreensão para com o povo tibetano, o relacionamento sino-tibetano enfrentará consequências negativas.
Em 10 de fevereiro de 2025, durante uma coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, um jornalista perguntou sobre as contribuições feitas pelo irmão mais velho de Sua Santidade o Dalai Lama, Gyalo Thondup, que faleceu recentemente. Entre as respostas do porta-voz chinês, houve a repetição da exigência de que o Dalai Lama reconheça publicamente que o Tibete e Taiwan são partes inalienáveis da China, cujo único governo legítimo é o da República Popular da China. Isso deixou claro que, como não há absolutamente nenhuma possibilidade de o lado tibetano distorcer sua própria história nacional, também não há qualquer base verdadeira para resolver a disputa sino-tibetana sob esses termos.
Com relação à questão de Taiwan, essa é uma decisão que cabe exclusivamente ao povo taiwanês e não tem qualquer relevância para a resolução da disputa sino-tibetana. A única abordagem verdadeiramente significativa para resolver essa disputa é a política do Caminho do Meio, amplamente divulgada pelo lado tibetano, que busca uma solução mutuamente benéfica. Quanto às precondições impostas pelo governo chinês, que não possuem fundamento na realidade, não há nenhuma possibilidade de o lado tibetano aceitá-las. Se o governo chinês insistir em estabelecer tais precondições e continuar bloqueando qualquer possibilidade de negociações entre as duas partes, impedindo a obtenção de um resultado mutuamente benéfico, reafirmamos que a responsabilidade por isso recairá inteiramente sobre o governo comunista da China.
Em 7 de janeiro deste ano, Dingri e várias outras áreas vizinhas ao Tibete foram abaladas por um devastador terremoto de magnitude 7,1, resultando em perdas severas tanto em vidas humanas quanto em propriedades. Após essa tragédia natural, dois desdobramentos chamaram a atenção. O primeiro diz respeito à propaganda do governo chinês, que, desde sua invasão armada e ocupação de todo o território tibetano, continua, há mais de 70 anos, a afirmar que “após a libertação pacífica do Tibete e sob a política perfeita do Partido Comunista Chinês, o povo tibetano tem desfrutado de experiências transformadoras de felicidade e prosperidade material”. No entanto, ao analisar a situação de maneira imparcial, a verdade desagradável se torna evidente com as consequências do recente terremoto, revelando as condições reais de vida da população tibetana.
O desastre expôs a precariedade da infraestrutura física e dos projetos de construção, incluindo as residências, bem como a insuficiência das instalações básicas nos bairros, como o acesso à saúde e a disponibilidade de profissionais médicos. A análise dos relatórios disponíveis sobre as áreas recentemente atingidas pelo terremoto no Tibete desmascara as falsas alegações do governo chinês, tornando evidente a dura realidade enfrentada pelo povo tibetano.
O governo da China pode ter dividido e subdividido o território nacional do Tibete em uma província, uma região autônoma, prefeituras autônomas e assim por diante, conforme suas próprias conveniências. No entanto, onde quer que vivam os comedores de tsampa, o Povo da Terra das Neves, pertencentes à região do Planalto Tibetano — seja desde nos tempos antigos até os dias atuais, seja ainda no Tibete ou no exílio —, nunca se esquece o fato de que todos são unidos pelo sentimento de fraternidade de carne e osso. A prova de que esse senso de fraternidade não foi perdido foi reforçada durante a recente devastação causada pelo terremoto. Da mesma forma, ficou ainda mais evidente que o senso de lealdade entre nós permanece inabalável.
O povo tibetano que vive nas três províncias tradicionais do Tibete — Domey, U-Tsang e Kham — fez grandes sacrifícios, dentro de suas capacidades individuais, para doar e contribuir com ajuda humanitária e socorro às vítimas. Quanto aos tibetanos no exílio, Sua Santidade o Dalai Lama e outros líderes religiosos de todas as tradições, independentemente de afiliações sectárias, conduziram cerimônias de oração com a participação das comunidades monásticas, da Administração Central Tibetana, bem como do público e organizações tibetanas, em consonância com as tradições únicas do Tibete. Em resumo, por meio dessas e outras ações, os tibetanos das três províncias tradicionais, estejam eles no Tibete ou no exílio, uniram-se para demonstrar uma unidade e solidariedade exemplares. Embora essas atividades não sejam diretamente relacionadas à política, a demonstração de altruísmo, entusiasmo, sacrifício e unidade foi uma grande fonte de encorajamento e orgulho para os tibetanos no Tibete e no exílio.
Na época do terremoto, muitos líderes e Grupos de Apoio ao Tibete na comunidade internacional enviaram cartas e mensagens de condolências e solidariedade. A todos eles, gostaríamos de aproveitar esta ocasião para expressar nossa gratidão.
A principal razão pela qual a questão do Tibete continua a receber apoio de tantos países é o compromisso supremo, os nobres feitos e a declarada bondade de Sua Santidade o Dalai Lama, que conquistaram admiração em todo o mundo. Isso resultou em inúmeras honrarias concedidas a ele, incluindo o Prêmio Nobel da Paz. Olhando para trás, torna-se evidente que a luta do povo tibetano é justa e pacífica, algo que se tornou cada vez mais claro para o mundo. O trabalho de conscientização global sobre a ausência de liberdade para os tibetanos que vivem sob o domínio chinês tem sido um esforço incessante.
Para manter essa luta no caminho certo até a conquista de seu objetivo final, membros do Parlamento Tibetano no Exílio se reuniram com parlamentares das duas casas do Parlamento da Índia, em Nova Délhi, para buscar apoio à causa tibetana. Da mesma forma, membros do Parlamento Tibetano no Exílio realizaram visitas a países da Europa, conduzindo amplos esforços de lobby para sensibilizar sobre o conflito sino-tibetano.
Este ano marcará os 90 anos de Sua Santidade o Dalai Lama, o maior líder do povo tibetano. Estão em andamento planos oficiais e da sociedade civil tibetana para celebrar essa ocasião com uma série de eventos ao longo do ano. Em consonância com esses planos para dar boas-vindas à nona década de vida de Sua Santidade, também estão sendo feitas preparações lideradas pelo Parlamento Tibetano no Exílio para homenageá-lo por seu presente de democracia ao povo tibetano e por suas realizações na democratização da sociedade tibetana.
As mudanças políticas no mundo de hoje ocorrem em um ritmo acelerado. Nós, tibetanos no exílio, não devemos deixar de aproveitar as raras e boas oportunidades que surgem quando são benéficas para o Tibete e seu povo. Para isso, tornou-se de extrema importância que os tibetanos direcionem seus esforços com altruísmo e máxima dedicação para alcançar o bem comum de todos, incluindo a conquista de nosso objetivo fundamental para o Tibete.
Por mais de seis décadas, o povo e o governo da Índia, os Estados Unidos, a Europa e diversos outros países, além de indivíduos e organizações ao redor do mundo, ofereceram apoio e assistência à causa tibetana. A todos eles, expressamos nosso mais sincero agradecimento!
Por fim, o Parlamento Tibetano no Exílio deseja, com orações, que Sua Santidade o Dalai Lama viva por cem eras, que todos os seus nobres desejos se realizem espontaneamente e que a justa causa do Tibete prevaleça rapidamente, para que o sol da felicidade brilhe novamente, reunindo os tibetanos no Tibete e no exílio.
Parlamento Tibetano no Exílio
10 de março de 2025