Trinta e quatro anos atrás—em 10 de dezembro de 1989—o Prêmio Nobel da Paz, conhecido em todos os lugares nas dez direções deste mundo, foi concedido à Sua Santidade o Grande 14º Dalai Lama, mestre de todo o corpus de ensinamentos do Buda, o ornamento mais precioso de todas as esferas da existência incluindo os céus, o ser mais exaltado que se manifesta como o portador do lótus, que exala grande afeição maternal para com todos os seres sencientes, mesmo na ausência de qualquer intimidade prévia para com qualquer ser, que é a própria personificação da compaixão, campeão da paz mundial, a divindade padroeira destinada da Terra das Neves do Tibete, o protetor e guia insuperável de todos os seres em todas as vidas, uma luz orientadora edificante, cujo nome completo é Jetsun Jampal Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso Sisum Wanggyur Tsungpa Mepey-de Pel-Sangpo. Assim, nesta importante ocasião do 34º aniversário desse grande evento, o Parlamento Tibetano no Exílio deseja com alegria prestar solene homenagem a Sua Santidade pela sua bondade, fé e gratidão em nome de todos os tibetanos no Tibete e no exílio, saudando-O com infinitas expressões de auspiciosidade e bem-estar.
Neste contexto, vale a pena recordar o que diz o catálogo de profetas de Tertön Nyima Drakpa, O Grande Compassivo, Dissipando a Escuridão da Ignorância: “Através da poderosa força das aspirações deste Rei do Dharma, um filho de um bodhisattva corajoso, um refúgio e protetor dos seres, um único aliado dos ensinamentos, aparecerá do centro e defenderá os ensinamentos do sütra e do mantra. As ações de alguém chamado Gyatso se espalharão em todas as dez direções.” Foi assim que Sua Santidade o Grande 14º Dalai Lama foi claramente profetizado pelo nome há muito tempo como uma reencarnação do Rei do Dharma Trisong De’utsan e como alguém cujas ações em prol dos seres sencientes se espalhariam por todas as dez esferas direcionais deste mundo. Ainda em tenra idade, Sua Santidade o Dalai Lama chegou ao Tibete Central. Ele assumiu a liderança temporal e espiritual de grande peso no Tibete numa época em que a situação no país era a mais crítica ameaçando não apenas o Tibete, mas sua própria sobrevivência. Desde aquele momento, Sua Santidade dedicou-se inteiramente ao bem-estar dos outros em geral, mas particularmente, depois de chegar ao exílio, se comprometeu a ajudar e beneficiar as pessoas em todo o mundo, através da promoção e reavivamento, conforme o caso, da cultura do povo tibetano com seu grande potencial para servir a humanidade. Para este propósito, Ele confiou unicamente no método da não-violência baseado nos profundos ensinamentos religiosos budistas e nos princípios de Mahatma Gandhi, enquanto dirigia Seus esforços em prol da justa causa do Tibete. Além disso, agindo com base no respeito mútuo, na amizade, na justiça e na bondade, Sua Santidade fez contribuições positivas e frutíferas, ao mesmo tempo em que se esforçou para ajudar a resolver conflitos internacionais, promover os direitos humanos e proteger o ambiente natural da Terra, com o objetivo de alcançar resultados significativos em todos essas áreas de atuação, bem como paz e bem-estar em todo o mundo. Os seus maravilhosos esforços nestes empreendimentos granjearam-lhe a admiração de pessoas de todo o mundo e levaram-no a ser homenageado com o renomado Prêmio Nobel da Paz.
Sua Santidade viajou por países e regiões de todo o mundo realizando ações de méritos insuperáveis. É por isso que até hoje, pessoas proeminentes, bem como outras de todos os lugares do mundo – tanto do Oriente como do Ocidente – independentemente da questão de serem ou não crentes na religião budista, continuam vindo a Dharamshala para se encontrarem com Ele buscando Sua orientação sempre que encontram oportunidade. Ele trata a todos sem qualquer atitude de favoritismo ou parcialidade, ao mesmo tempo em que interage com eles com preocupação compassiva oferecendo-lhes o néctar de Suas palavras de conselho. Estes conselhos tiveram grandes efeitos transformadores na atitude mental de muitas pessoas, levando a desenvolvimentos positivos em suas vidas quotidianas e permitindo-lhes adoptar a postura de ajudar a outros seres vivos. O envolvimento de Sua Santidade 14º Dalai lama em atividades destinadas a ajudar aos outros nessas e em muitas outras formas de esforços direcionados a garantir o bem-estar de todos os seres sencientes transcorreu como o contínuo crescimento da lua chegando a um nível de plenitude onde Ele passou a ser reconhecido como um campeão da paz mundial.
Não só isso, Sua Santidade também se tornou um líder eminente muito admirado tido em alta estima por pessoas e organizações em países de todo o mundo, tanto no Oriente como no Ocidente. Sua Santidade o Dalai Lama reitera frequentemente que dedicou a Sua vida ao cumprimento de quatro compromissos principais: o primeiro é fazer esforços para concretizar a felicidade comum de todos os seres humanos através da promoção dos valores humanos; o segundo é promover a harmonia entre as diferentes religiões; o terceiro é defender, preservar e transmitir a cultura e a espiritualidade tibetanas; e o quarto é restaurar a cultura indiana clássica e a ética secular em conjunto com a educação moderna. Todos devemos empenharmo-nos no estudo destes quatro compromissos com o objetivo de os internalizar e os adoptar na nossa conduta quotidiana, tendo como base as ideias e orientações ensinadas por Sua Santidade o Dalai Lama. Esta é a melhor grande oferta de gratidão que podemos fazer para agradá-Lo.
O Prémio Nobel da Paz de 2023 foi atribuído a ativista iraniana Narges Mohammadi. Ela recebeu o prémio pela sua coragem infatigável na luta contra a opressão das mulheres no Irão e por seu voto determinado de lutar pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos. Portanto, em nome do povo tibetano no Tibete e no exílio, o Parlamento Tibetano no Exílio expressa aqui sua admiração pelas realizações notáveis desta ativista, ao mesmo tempo que lhe estende as suas felicitações. Da mesma forma, o Parlamento no Exílio também expressa sua admiração e felicitação aos outros ilustres vencedores do Prêmios Nobel deste ano nas áreas da literatura, economia, física, química, medicina e assim por diante.
Hoje também é comemorado o Dia Mundial dos Direitos Humanos. Infelizmente, para as pessoas dentro do Tibete, mesmo os direitos humanos mais fundamentais existem apenas em estado de negação absoluta. Além disso, longe de tomar qualquer medida para relaxar a política de linha dura que tem continuado a seguir até agora, o governo da China continua sua prática rotineira e obstinada de distorcer a verdade e mentir sobre a situação real no seu país, realizando esforços incansáveis para iludir as pessoas dentro do país, bem como os governos e os povos de todo o mundo.
No dia 10 de Novembro deste ano, o Gabinete de Informação do Conselho de Estado do governo da China publicou em tibetano e inglês um relatório branco[1] intitulado Políticas do PCC sobre a Governaça de Xizang na Nova Era: Abordagem e Conquistas. Desde 1992, o governo da China já publicou um total de 16 relatórios brancos apenas sobre o Tibete. A essência do conteúdo destes relatórios é tentar estabelecer como existente o que não existe no Tibete e aquilo que não é verdadeiro como verdadeiro sobre a situação verdadeira no Tibete. Mais do que isso: encobrir a realidade oculta de suas políticas no Tibete tem sido o único objetivo por detrás da publicação desses relatórios brancos.
O conteúdo do último relatório branco sobre o Tibete parece estar repleto principalmente de mentiras descaradas sobre as conquistas do governo da China desde a sua ocupação do Tibete. É óbvio que a sobrevivência ou extinção do povo tibetano depende da força vital da sua cultura e religião. Mas, nestas áreas, não houve qualquer realização significativa. Em vez disso, a China politizou as questões que lhes dizem respeito com slogans e retóricas vazias como “O sofrimento transformou-se em felicidade com a chegada do Partido Comunista!” “Pátria, bem-vinda!” “Os corações das crianças tibetanas estão com o Partido Comunista!” e assim por diante, para citar apenas alguns exemplos. Do ponto de vista das “conquistas” no campo da religião, os slogans e retóricas do governo chinês incluíam um que dizia que “Até o final de 2022, 164 monges foram credenciados no ranking de Geshe Lharampas”, para citar apenas um exemplo retirado do próprio relatório branco.
Este número é visto como o mais alto número de grau Geshe Lharampa concedidos até agora desde o renascimento deste sistema de premiação acadêmica religiosa no Tibete. Continuando a distorcer a realidade, o livro branco indica que a reencarnação dos Dalai Lamas e Panchen Rinpoches “devem ser procurados dentro do país, decididos através da prática do sorteio da urna dourada e receber a aprovação do governo central”. Tal método nunca poderá ser aceitável para o povo tibetano ou para os seguidores das tradições budistas tibetanas. Esse método não apenas está em disacordo com as tradições budistas tibetanas já bem estabelecidas, mas também nada mais é do que uma reiteração da antiga e distorcida narração da história do Tibete feita pela China. O Parlamento Tibetano no Exílio deseja mais uma vez lembrar ao governo da China que a descoberta e o reconhecimento da reencarnação de Sua Santidade o 14º Dalai Lama devem basear-se no respeito pelos desejos do povo tibetano, seja qual for a decisão que Sua Santidade, o próprio 14º Dalai Lama, bem como dos responsáveis envolvidos do Gaden Phodrang Trust do Dalai Lama possam tomar. Nenhum país ou grupo tem qualquer poder para interferir neste processo. Em particular, nenhum reconhecimento ou aceitação deverá ser dado a um candidato escolhido para fins políticos por qualquer pessoa, incluindo os da República Popular da China. O Parlamento Tibetano no Exílio deseja deixar absolutamente claro que qualquer politização desta questão da reencarnação não levará a qualquer compromisso de fé ou reconhecimento de qualquer candidato escolhido desta forma.
É relevante salientar que os órgãos da Organização das Nações Unidas, os Estados Unidos da América, bem como países da Europa, Ásia e outros, têm criticado continuamente o governo da China pelo seu histórico sobre a situação dos direitos humanos no Tibete e dirigido apelos pela libertação imediata do 11º Panchen Jetsun Tenzin Gedhun Yeshe Thinley PalSangpo (Gedhun Choekyi Nyima), bem como de outros tibetanos que foram presos por razões políticas e que, portanto, continuam a ser sujeitos a todas as formas de crueldade. Da mesma forma, também criticam e apelam para o fim do programa em curso do governo da China de utilização de meios coercivos para colocar crianças tibetanas em internatos de estilo colonial com o objetivo ulterior de assimilá-las à suas políticas de dominação do povo tibetano. Esses governos continuam a dar apoio ao povo tibetano, apelando ao governo da China para que conceda aos habitantes do Tibete seus direitos de aprender e usar ou praticar a sua própria língua e escrita, religião e cultura. Além disso, durante uma conferência dos Líderes da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC)recentemente realizada na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, o Presidente dos EUA, Joe Biden, expressou preocupações relativamente aos abusos dos direitos humanos na República Popular da China, inclusive no Tibete, diretamente ao presidente Xi Jinping da China. O Parlamento Tibetano no Exílio expressa aqui seu apreço por este gesto. Além disso, o Parlamento Tibetano no Exílio deseja aproveitar a oportunidade proporcionada por esta ocasião para lembrar, mais uma vez, ao governo da China que se tornou uma questão da maior importância que este governo faça uso eficiente do momento actual no que diz respeito à resolver a questão entre o povos do Tibete e da China. Tendo em vista este facto, o governo da China deve rever a sua posição sobre a questão do Tibete com base na realidade, assumir responsabilidades perante a comunidade internacional, atentando para aos sentimentos reais do povo tibetano no Tibete e se esforçar para resolver a disputa sino-tibetana através de uma solução negociada baseada na proposta feita por Sua Santidade o 14º Dalai Lama.
Além disso, governos, povos, parlamentos e figuras importantes e funcionários de grupos e associações em países que incluem os Estados Unidos da América e os da Europa têm prestado um apoio sólido à questão do Tibete na cena internacional. A todos eles, e especialmente ao povo e ao governo mais graciosos da Índia, o Parlamento Tibetano no Exílio deseja expressar a sua sincera gratidão.
For fim, o Parlamento Tibetano no Exílio oferece orações para que o líder supremo do povo tibetano, Sua Santidade o Dalai Lama, possa permanecer como o protector de todos os seres sencientes nos três reinos do universo, em especial, os de nossa Terra das Neves, por cem éons; que todos os Seus desejos sejam realizados com espontaneidade, sem obstáculos; que todos os conflitos violentos neste mundo possam diminuir para que todos os seres encontrem a paz; e que, com base nesses princípios, a verdade da causa justa do povo do Tibete possa ver a luz do dia com toda a rapidez.
Parlamento Tibetano no Exílio,
10 de dezembro de 2023
* Em caso de qualquer discrepância entre esta tradução do inglês e o original tibetano, este último deverá ser considerado oficial e final para todos os efeitos.
[1] Nota do Tradutor: white paper, relatório branco, é um documento produzido por empresas ou órgãos governamentais, nesse caso o governo chinês, apresentando informações e soluções de problemas do ponto de vista da entidade que produz o documento para fins de promover um produto ou tópico.